Estou escrevendo este texto logo após a informação de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros da economia, a Selic, de 13,75% para 13% ao ano.
Isso chamou a atenção de boa parte do mercado financeiro, que ficou alvoroçada. Afinal, havia um consenso na expectativa de uma redução menor, para 13,25%.
Nós do Dinheirama recebemos diversas mensagens parecidas, em que os leitores nos perguntam sobre como ficarão os investimentos de Renda Fixa; em especial os títulos do Tesouro Direto, que tanto gostamos como principal ponto de entrada nos investimentos mais inteligentes e que indicamos como uma ótima escolha.
Hoje quero analisar algumas coisas importantes sobre isso. Antes, porém, preciso dizer:
1) Se você quer entender melhor o que é a Selic, recomendo a leitura destes dois textos:
- Selic: entenda como ela afeta a economia, o consumo e o (des)emprego;
- Selic: entenda como ela afeta os seus investimentos.
2) Apesar deste texto ser temporal, os conceitos podem ser aplicados em diversas interpretações da economia, afinal, ela é dinâmica e precisamos compreender isso para cuidarmos bem do nosso dinheiro.
A Selic e os investimentos em Renda Fixa
Os investimentos em Renda Fixa são divididos em três grupos, com diferentes características:
- Pré-fixados: rentabilidade fixa, independente da variação dos juros;
- Pós-fixados: rentabilidade varia, acompanhando a variação dos juros;
- Mistos: possuem uma parcela pré e outra pós-fixada.
Dessa forma, como estamos dando ênfase para os títulos públicos, é importante reforçar que esse movimento de queda de juros gera variações na rentabilidade de todos eles (ela cai).
No entanto, essa variação de rentabilidade é diferente para quem está comprando um título agora e para quem já estava de posse de um título antes de os juros iniciarem a trajetória de queda. Vamos analisar caso a caso.
Tesouro Selic
Como ele é um título 100% pós-fixado, se você já tinha esse título na sua carteira ou pretende comprar de hoje em diante, a rentabilidade irá acompanhar a taxa Selic. Simples assim.
Tesouro Pré-fixado
Como ele é um título 100% pré-fixado, se você já tinha comprado um título desses bem antes da queda dos juros, você conseguiu garantir uma rentabilidade que provavelmente ficará maior que a própria Selic em algum momento (talvez isso já esteja acontecendo).
Houve momentos no ano de 2015, no ápice da crise e dos juros altos, que foi possível comprar Tesouro Pré-fixado pagando próximo de 17% ao ano de juros. Excelente! No momento em que escrevo, eles estão pagando algo próximo de 11% ao ano.
Na medida em que continue o movimento de queda da taxa de juros, a rentabilidade desse título, para quem ainda for comprar, deverá ser menor. Para quem já o tem em mãos, nada muda. Vale a rentabilidade que você garantiu quando comprou.
Tesouro IPCA
Como ele é um título misto, que contém um componente pré-fixado (juros fixos ao ano) e um componente pós-fixado (variação da inflação medida pelo IPCA), ele também vai sofrer variações em sua rentabilidade em função da taxa de juros.
Em termos bem simples e didáticos, o Copom decide alterar a taxa de juros na medida em que vai observando o comportamento da economia, a expectativa dos investidores e quando percebe que a inflação também está se movimentando.
Com a inflação em alta, os juros são elevados para conter a atividade econômica e “segurar” os preços. À medida em que a inflação diminui, como é o caso dos últimos meses, o Copom reduz os juros para reativar a economia. A isto se chama instrumento de política monetária, o que por consequência afeta a rentabilidade do Tesouro IPCA.
Daqui em diante, o raciocínio é similar ao dos títulos pré-fixados, que descrevi do item anterior. Já tivemos também em 2015 títulos Tesouro IPCA pagando cerca de 7% + IPCA. No momento em que escrevo, estão pagando algo próximo de 5,6% + IPCA.
Vídeo recomendado: O que é o Tesouro Direto?
Rentabilidade real é o que importa
Aqui temos o conceito mais importante para você compreender. Quando investimos, buscamos dois objetivos principais:
- Proteger o poder de compra do dinheiro;
- Obter lucros reais para aumentar nosso patrimônio.
Dessa forma, qualquer investimento com rentabilidade acima da inflação terá cumprido com nosso primeiro objetivo. Aquilo que ultrapassar esse ponto será o lucro real para fazer nosso patrimônio crescer.
Assim, você não deve ficar preocupado pelo fato de a taxa de juros estar caindo. O que merece sua atenção e cuidados é a decisão de manter rentabilidade real positiva nos seus investimentos.
Veja só que interessante: conversando com meu amigo e analista de investimentos Roberto Indech, ele me disse que em 2016 a rentabilidade real do Tesouro Selic foi de 4,73% no ano (Selic menos inflação).
Para 2017, se considerarmos uma taxa Selic média de 12% e a inflação na casa dos 5%, teremos uma rentabilidade real de 6,67% no ano. Veja que apesar da queda nos juros, a rentabilidade real poderá ser maior, pois a inflação também está caindo, e num ritmo provavelmente maior que a própria Selic.
Vídeo recomendado: Conheça mais o Tesouro Direto
Conclusão
Não há motivos para você se preocupar com a queda de juros, desde que você compreenda estes mecanismos e principalmente o conceito de juros reais.
Ainda que a rentabilidade real de seus investimentos em Renda Fixa venha a diminuir, existem várias outras formas de você multiplicar seu patrimônio, como a bolsa de valores, os investimentos-anjo, os negócios próprios e assim por diante.
Importante também é você sempre investir no melhor ativo de todos: o seu conhecimento. Só assim você será livre para tomar decisões acertadas, sem depender dos outros ou de informações duvidosas. Deixo um forte abraço e desejo ótimos investimentos!
Conrado Navarro
Educador financeiro, tem MBA em Finanças pela UNIFEI. Sócio-fundador do Dinheirama, autor dos livros “Dinheiro é um Santo Remédio” (Ed. Gente), “Vamos falar de dinheiro?” (Novatec) e “Dinheirama” (Blogbooks), autor do blog “Você Mais Rico” do Portal EXAME e colunista da Revista InfoMoney.